30 de set. de 2018

PRECISAMOS FALAR SOBRE SKAM I RESENHA


Uma vez um professor entrou na minha sala de aula e perguntou quais filmes ou séries nós assistíamos que não eram americanas ou da Europa que tinham o idioma inglês. E acabamos percebendo que quase ninguém assistia nada que não saísse da rodinha Estados Unidos - Londres. O que é meio triste.

Dizendo isso, digo que esse post terá duas utilidades á você que está lendo: conhecerá uma série muito boa, e uma série muito boa da Noruega (país esse que eu nunca tinha visto nada de audiovisual antes). Pensando assim, no futuro, posso tentar ir atrás e procurar séries e filmes em nacionalidades bem diferentes para apresentar. Mas vamos ao ponto desse post: SKAM foi uma das melhores séries que assisti no ano passado.

SKAM (na tradução livre, significa vergonha), é uma série de televisão norueguesa que retrata o cotidiano de um grupo de adolescentes em que algum momento, suas vidas se cruzam. A história se passa mais precisamente em Oslo, e a série é produzida pela NRK P3, que é membro da emissora NRK.

A criadora da série se chama Julie Andem, que é produtora, roteirista e diretora de televisão norueguesa. E é ela quem recebe a admiração dos fãs por conta de tratar de tantos assuntos persistentes ao jovens de uma forma tão sincera da qual vemos em SKAM.


A série é incrível. É como se infiltrar na vida de um grupo de amigos e ver as situações que eles passam diariamente. SKAM é uma série sobre personagens. Assim Greys Anatomy é uma série sobre medicina, ou como Breaking Bad é uma série sobre produção e tráfico de drogas, SKAM é uma série de personagens.

Cada temporada tem como foco um personagem em específico. Na primeira temporada, a principal é a Eva Kviig, da qual namora o Jonas e parece estar deslocada na escola em que estuda. Procurando se enturmar, ela acaba indo em uma festa e acaba conhecendo Noora, Chris e Vilde, as integrantes do Girl Squad da série. Na escola, ela revê essas meninas e conhece também a Sana. Isso acontece enquanto elas tentam começar a organizar um Russ Bus, que é uma tradição norueguesa que consiste em: ter um ônibus e fazer uma série de festas com ele, no último ano da escola. É como um ritual de passagem muito importante lá. Tanto que eles fazem de tudo para poder ter o dinheiro para isso acontecer, e, de certa forma, a série tem isso como gancho para reunir as meninas. E para mim, que não fazia ideia disso, quando assisti pela primeira vez fiquei me perguntando o que era isso. (Agora você já sabe!).

A série ter como um de seus pontos positivos a discussão de assuntos como virgindade, sexo e relacionamentos, tratados de forma real. Entende? E não como uma mega questão que certas novelas teens tratam. A série é meio que real: jovens falam e fazem sexo! E não tem jeito melhor de poder falar e mostrar isso do que a série faz.


A segunda temporada tem Noora Saetre como personagem principal, e posso dizer, sem dúvidas, que ela é garota mais cativante de toda a série. Você se interessa e se envolve por quem ela é. Ícone feminista da série, a garota acaba defendendo uma da amigas de um cara que a tratou mal. Cena essa que roda o Facebook, de tão lindo que o pisão foi. E quem vê a série, fica meio chocadinho com a reviravolta que essa história toma nessa parte da história. Essa temporada também gira em torno de um casal, mas mais do que isso, em torno de assuntos muito importantes como a amizade das meninas e fala sobre abuso sexual.

Isak Valtersen é o personagem principal da terceira temporada, e essa ganha disparado como temporada favorita dos fãs. Isso, porque é uma das temporadas que você mais se envolve com o personagem e as mudanças que ocorrem com ele durante a série. Isak é um tipo de personagem que você entende e vive o que está acontecendo na vida dele naquele momento, se pode se dizer isso. Ele está se descobrindo, e como podemos ter uma ideia, nessa fase, tudo é muito confuso. Discussões como preconceito, homossexualidade e empatia pesam na reflexão dessa temporada.

A quarta, e última, tem a Sana como principal, e essa é a minha temporada favorita. Sana Bakkoush é uma garota muçulmana que vive em um país onde sua religião não é muito entendida ou amada. Ela lida com muitos pré conceitos que as pessoas tem a cerca de si. De longe, ela é a mulher mais forte de todo o Girl Squad, e a mais ácida também. Ela seria a mal humorada do grupinho de amigos. Mas, de fato, é com ela que se aprende mais sobre a vida na série.


Acho a temporada dela a melhor que é porque descasca a personagem e a conhece um pouco mais.  Conhece o que há além do hijab que ela veste sobre a cabeça. E é a parte da série que meio que se completa o que toda a obra quis dizer: pessoas precisam de pessoas. E a última cena é linda. A série inteira ela exala que empatia é muito importante. E eu faço a resenha de uma forma muito suspeita, porque eu amo essa série.

Eu amo a forma como ela leva os jovens a sério. Eu amo a forma como ela trata esses problemas visto como bobos pelos adultos, como problemas de pesos reais. E ás vezes nós precisamos disso, que alguém sente, nos ouça e leve nosso "drama a sério". Eu acho importante ligar a televisão (ou o computador) e se sentir representado, sabe? Eu tenho essa necessidade e eu fico muito feliz por SKAM existir.  Além de que assuntos muito importantes foram abordados, e alguns apenas comentados infelizmente: depressão, distúrbio bipolar, distúrbios alimentares, sexualidade, virgindade, drogas, religião, empatia, preconceito, relacionamentos abusivos e tantos outros assuntos que não lembrar todos. E posso dizer que foram tratados com o cuidado e respeito que deve ser tratados.

E uma das coisas mais belas da série é a sororidade entre as cinco meninas principais. Como elas colocam a amizade delas em primeiro lugar e fazem de tudo para estarem seguras e confortáveis entre si, e se defendem, mesmo quando a amizade delas ainda não está tão solidificada. É meio que uma forma elas dizerem "estamos uma pelas outras, sendo mulheres e sendo amigas".

Falando de uma forma mais técnica: a série é muito bem feita. O roteiro é muito bem escrito! Sei que diálogos são muito difíceis de serem elaborados, e nesse caso, a naturalidade das conversas é admirável. A fotografia de SKAM é maravilhosa e dá uma sensação de estar ali, com todos eles.

E também temos slow motion... Temos um certo personagem chamado William (se fala Willhaim, e eu amo a forma como eles falam os nomes), que é o galã da série. E, em quaquer momento que ele aparece, o modo slow é ativado e ele anda em câmera lenta com o cabelo voando ao vento. O tanto que o efeito é usado com ele e seu grupinho podia ser zoado, mas de tanto que é usado, se tornou a marca da série. Porque se toca uma música meio sexy (tipo The Weeknd) e as meninas meio que olham todas para um lado, você já sabe que Wiiliam vai entrar em câmera lenta. Fazer o quê, tu se acostuma e curte.

As festas também são um ponto muito importante da série: tem muitas e todas parecem ser incríveis. Cheia de gente bonita, bebida e músicas boas. E, claro, um dos pontos mais importantes da série: a trilha sonora. Tem desde Baby, do Justin Bieber, até The Hills do The Weeknd. E não para por aí: Lana Del Rey, Skrilex, Selena Gomez, xxx são alguns dos artistas presentes. O que é incrível. Além de você acabar adicionando na própria playlist algumas músicas norueguesas (Fy Faen é muito boa, ouçam!). Parece que algum jovenzinho selecionou as músicas. E ter tantas músicas populares foi meio que o que fez com que a série fosse cancelada.

O que se sabe, ou o que se especula, é o seguinte: SKAM foi publicidada no site da emissora NRK, na Noruega. Portanto, todos os direitos dessas músicas populares (o que deve ter sido muito caro) foram pagos para reprodução na Noruega, apenas. Acontece que, a série viralizou. Ela se popularizou no mundo todo (pirataria e tals) e por conta disso, essa emissora estaria, de certa forma, descumprindo com o que foi combinado com as músicas. Afinal, eles pagaram o valor referente á reprodução na Noruega e não no mundo todo. Se eles continuassem a série, eles teriam que pagar o direito de todas as músicas referente aos lugares onde a série estava sendo exibida e isso seria inviável dado ao orçamento que eles tinham.

Então, a série foi cancelada. E seus direitos foram vendidos para diversas versões pelo mundo: americana (escrita pela mesma roteirista da original, Julie), italiana, alemã, francesa e xxx. Por enquanto, os fãs preferem a alemã. E eu amaria (produzir) ver a versão brasileira da série. Sério, as festas seriam muito boas. E essa venda de direitos meio que prova o intuito da série: retratar o jovem de forma fiel, e agora a realidade dos jovens em diferentes partes do mundo.

Eu não vi as outras versões até então. E lamento demais a série ter sido cancelada. Temporadas com personagens com a Vilde, Even, a Chris, Eskild e outros, poderia ter aberto para reflexões dos mais diferentes tipos. Mas não deixem o fato dela ter sido cancelada tirar a vontade de vê-la porque ela terminou sem pontas muito soltas. Pode ter hoje muitas versões, mas é aquilo, nada vai superar a original. E só mais uma coisa: a língua norueguesa é estranhamente gostosa de se ouvir. E, talvez, você fique chamando o nome dos personagens e algumas palavras em voz alta pela casa.


Essa foi a resenha de SKAM. Apenas assistam. Se o primeiro episódio não convencer, veja mais dois. É uma série maravilhosa de se ver e ficar com o coração quentinho. Uma série que fala da vida de forma simples em um tempo que a gente fica muito admirado com explosões no cinema. Uma série que parece que foi feita por um grupo de amigos que está no final da faculdade de audiovisual, de tão jovem que ela consegue ser. Uma série que não parece que tem câmera, e sim que você se infiltra e está ali no ambiente com eles. Uma série necessária para o jovem pensar "caraio, eu também sou gente".

E para terminar, uma frase que Noora deixa grudadinha na sua cabeça: "Todo mundo que você conhece está lutando uma batalha da qual você não sabe nada sobre. Seja gentil. Sempre."

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